19 de fevereiro de 2022 0 Por Desperta São Caetano

Moïse Mugenyi Kabagambe, um congolês  de 24 anos, morto na refinada Barra da Tijuca por 3 “humanos” durante 12 minutos de agressão após sofrer ao menos 30 pauladas enquanto estava no chão é o mais fiel retrato da banalização das vidas onde vários agridem, vários são agredidos e vários somente observam.  Todos os envolvidos eram “empregados comissionados” de um quiosque de praia, sobrevivendo em troca da comissão do que vendiam na areia e a motivação do crime seriam essas migalhas devidas pelo quiosque aos famintos vendedores que terminaram a discussão num desproporcional espetáculo de violência. Poderia a vítima ter buscado seus Direitos trabalhistas? Sim. Poderiam os agressores ter chamado a Polícia diante do exaltado cobrador? Sim. Mas a ineficiência e lentidão do Estado em oferecer seus deveres são mais um gatilho para a banalização da violência, que ainda se vê impulsionada pela dramatização midiática do crime que agora anseia pelo Tribunal do Júri onde sete jurados vão definir o futuro dos agressores que vão responder pelo homicídio doloso duplamente qualificado decorrente da impossibilidade de defesa e do meio cruel. Neste aspecto, o Tribunal do Júri, órgão responsável pelo julgamento de crimes doloso contra a vida – em que, além do homicídio, se julgam os crimes de participação do suicídio, infanticídio e o aborto – acaba sendo o palco para o ato final de um circo popular que diuturnamente escolhe as vítimas e os vilões da semana transformando o Estado de Direito num espetáculo público como os enforcamentos de outros tempos. Mas afinal, quem é a vítima? Quem é o criminoso? Quando uma sociedade assiste plena a morte de um pobre negro refugiado por sujeitos não menos desfavorecidos, todos somos vítimas e criminosos. A vergonha é nossa. O Estado, vítima da sua própria omissão criminosa. A sociedade, dividida em castas sociais, racistas, sexistas e xenofóbicas, é vítima de sua incapacidade de ação e reação. Resta-nos agora aguardar o próximo crime e o julgamento dessa “Justiça desafinada, tão humana e tão errada”, e ouvir novos discursos de uma nova política salvadora de segurança pública.